<$BlogMetaData$>


         
Livro de Visitas        FALE CONOSCO!             Leitor(es) online                   Arquivos 2003

6 de setembro de 2007

 

A Questão do Negro - Artes

"O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros." (Paulo Freire).
Com base nas manifestações sobre a valorização das africanidades e valendo-me das discussões promovidas pelo curso Educando Pela Diferença para a Igualdade, de 2006, desenvolvi com os estudantes do 1º Ano do Ensino Médio A, C, D e F, utilizando a Arte para reconstrução de conceitos e mudanças sociais, um projeto pedagógico voltado para a pesquisa, discussão e produção de trabalhos artísticos com enfoque na cultura afro-brasileira.
"Tudo pode ser estranho ou ruim quando não sabemos o que é, ou não sabemos seus significados." (B.R.P., 1º C).


Durante o primeiro trimestre de 2007, pudemos em conjunto, descobrir, discutir e rever muitos dos conceitos que até então tínhamos sobre a cultura africana.
"Eu acho que o negro tem muito medo de se expressar. Ele se esconde atrás da música, do jeito de se vestir e do jeito de falar." (M.B.M., 1º D).


Muitas das atividades, como a pesquisa musical (Clara Nunes, Beto Villares, Músicas tradicionais e contemporâneas africanas, pontos de terreiro, etc), por exemplo, trouxeram uma nova luz para os elementos constituintes das canções que repetimos e ouvimos sem refletir.
"O ser humano é contraditório, achamos que nos conhecemos, mas não fazemos nem idéia do que somos. São nas pequenas coisas que o ser humano se revela, na verdade, todos temos preconceito de alguma forma. (...) Acho que somos a face do bem e do mal. A que você vai seguir, vai depender do momento." (M. M., 1º A).


O trabalho com obras de Arte (Heitor dos Prazeres, Rubem Valentim e Modesto Brocos Y Gomes) selecionadas em livros, CD-ROM ou pranchas pedagógicas, representativas da realidade social, cultural e política de nosso país no momento de sua criação, forneceram base para discussões sobre a construção do preconceito e da intolerância, assim como, da discriminação racial; além das discussões, estendidas ao núcleo familiar e social dos alunos através de pesquisas e da representação de seus trabalhos plásticos.
"A história do povo afro-descendente é pouco conhecida ainda hoje. As pessoas só sabem que os negros eram escravos que se libertaram. Poucos admitem que sem os negros, muitas produções artísticas e culturais não existiriam em nossa sociedade." (A.B. 1º C).


O trabalho contou ainda com filmes e jogos (Crash, no Limite e Maculelê), que, depois de explorados através da expressão corporal (nesta etapa, a participação do professor de educação física foi de grande importância), resultaram em performances representativas da luta pela igualdade e liberdade de expressão.
"A expressão corporal nos faz entender que a liberdade é possível, e que nunca é tarde para buscar nossa origem cultural e valorizar o que somos." (I.M.S., 1º D).


Os resultados identificados com o projeto puderam ser vistos através de relatórios produzidos pelos alunos e alunas, nos quais, eles tentaram representar seu ponto de vista sobre a questão do negro.
"A questão do negro foi 'superação'. Superar ao longo de 300 anos, o fato de ser tratado e reconhecido como animal. Da falta de liberdade, de privacidade, de respeito.
A questão do negro é o 'pré-conceito'. Sofrer porque acreditou, orou, dançou. Ser visto como 'errado' por quem não tem o direito de julgar ninguém.
A questão do negro é 'defesa'. Defender o que sente, o que pensa, como age, sem, na maioria das vezes, ter direito ao “ataque”.
A questão do negro é 'aprender'. Aprender a superar limites, superar dificuldades e 'brincadeiras', aprender a crescer.
A questão do negro será 'vencer'. Vencer o preconceito, o desemprego, a falta de respeito. Vencer o mundo que o julga sem conhecer. " (A.B.D.R., 1º C).


Apoiados em discussões, leituras, pesquisas e também na produção artística em todas as suas linguagens, os alunos e alunas do Ensino Médio, conseguiram mostrar que o desenvolvimento das aulas de Artes não precisa (e nem deve) necessariamente se prender apenas ao fazer.
"Preconceito existe dentro de todos, e todos são suas vítimas. O que o negro tenta mostrar é que ele é um ser humano comum, que sua 'cor' não o torna diferente. Eles vieram da África sim, têm suas religiões e culturas, mas isso não os torna mais importantes. Importante, é lembrar que todos somos iguais, e merecemos no mínimo, respeito." (A.G.A., 1º A).


Assista o Maculelê clicando aqui

Mais que isso, a reflexão contínua sobre o que vêem, ouvem, falam e criam – dentro e fora do ambiente escolar, fizeram parte de todo o projeto e permitiram, além da identificação dos preconceitos perpetuados pela sociedade, novas questões, que atualmente vêm sendo abordadas em outro projeto pedagógico na disciplina.
"O contato com a cultura africana me mostrou como podemos ser felizes com coisas simples, de que não devemos desistir, que temos origem e que sempre é possível vencer os desafios." (C.A.Z.S., 1º A).



Prof. Paulo Antonini leciona Artes na Escola Dinah.




Veja as matérias anteriores nos arquivos.
Criação, Edição e Atualização
Paulo Antonouza