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29 de agosto de 2008

 

Ensino Médio Reflexivo - Educação Física

Em uma recente aula para o Ensino Médio, utilizando uma dinâmica que visa propiciar a defesa de argumentos sobre um tema, em uma situação semelhante a um julgamento num tribunal, discutimos sobre a beleza e sua indústria.
Estava em pauta, a defesa ou a acusação de todo um mercado voltado às questões da beleza e sua manipulação de padrões.
Terminado o julgamento, a indústria da beleza foi absolvida, sob alegação da liberdade que as pessoas têm para escolher o que querem para si.
Entrando em um movimento reflexivo com os discentes, discuti sobre a suposta liberdade em que estamos inseridos.
O exemplo utilizado foi o da compra de um refrigerante.
Será que, quando estamos prestes a escolher um refrigerante para levar para casa, diante de uma geladeira no mercado, estamos realmente livres para escolher?



Não somos, ou, ao menos, não podemos estar sendo impelidos para o consumo de um produto A, em detrimento de um produto B,Cervejas Primus e Fidalga - análise e comparação fortemente influenciados por propagandas que nos seduzem?
Os meios de comunicação são neutros?
Quando nos atentamos para a possibilidade de pensamento por esta óptica, ou por uma outra, quando não nos atemos a uma unilateral visão, podemos estar ampliando nossas possibilidades de compreensão sobre um tema.
Não discuto aqui se nos tornamos mais ou menos felizes com isso, pois a resposta, provavelmente, seria catastrófica, para alguns. Contudo, talvez, nos tornamos mais reflexivos. Podemos inverter as ordens das coisas.
Ao invés de pensarmos o que nos cerca através da visão dos “vencedores”, dos “ricos”, e a estes, sempre se atribui conceitos como, felicidade, realização, sendo assim, considerados modelos a serem seguidos e, toda uma construção societária acaba estando a favor desses, altera-se o foco para os desfavorecidos, o que pode colaborar para um conscientizar-se sobre possíveis manipulações, alienações estabelecidas.
Todavia, tal posicionamento, na edição 2074, de 20 de agosto de 2008, da revista Veja (clique para ler a matéria da revista), é denominado, de modo depreciativo, ideologização do ensino, doutrinação esquerdista.
Os discentes são chamados de “pobres alunos” por terem um professor que expande o olhar para outras visões.
Nessa perspectiva, as autoras de tal reportagem, certamente, me chamariam de esquerdista e os educandos que participaram da situação de aprendizagem apresentada no início deste texto, de pobres alunos.
Aproveitando o ensejo, a expressão “pobres alunos” proferida pelas autoras não é ideológica, não faz parte de uma doutrinação?



Atentemos: no contexto da frase, pobre é sinônimo de coitado!
Poderíamos, então, chamá-las de “direitistas”?
Apresento a resposta, considerando que, das cinco manifestações PUBLICADAS, na edição 2075, de 27 de agosto de 2008, da revista Veja, na seção Leitor (confira as "cartas"), quatro, parabenizam a revista pelo conjunto de reportagens sobre a educação.
Ora, seria insano acreditar que reportagens tão polêmicas teriam tão poucas opiniões contrárias enviadas à seção Leitor!
Não dá pra esquecer que a revista Veja, também, é mídia, com seus posicionamentos, com suas escolhas.
Neutra?
Jamais, pois a neutralidade é irrealizável!
Sempre estamos a favor de algo ou de alguém, ou, contra algo ou alguém, mesmo se nos colocamos distantes da discussão. Neste caso, colaboramos para a permanência do status quo em questão.
Vejamos um exemplo, aparentemente “neutro”, afinal, já se encontra estabelecido:
Quando falo homem, a mulher está incluída”. E por que os homens não se acham incluídos quando dizemos: “As mulheres estão decididas a mudar o mundo.”? Nenhum homem se acharia incluído no discurso de um orador ou no texto de nenhum autor que escrevesse: “As mulheres estão decididas a mudar o mundo”. Da mesma forma como se espantam (os homens) quando a um auditório quase totalmente feminino, com dois ou três homens apenas, digo: “Todas vocês deveriam” etc. Para os homens presentes ou eu não conheço a sintaxe da língua portuguesa ou estou procurando “brincar” com eles. O impossível é que se pensem incluídos no meu discurso. Como explicar, a não ser ideologicamente, a regra segundo a qual se há duzentas mulheres numa sala e só um homem devo dizer: “Eles todos são trabalhadores dedicados?”. Isto não é, na verdade, um problema gramatical mas ideológico. (FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006. p.67).



Será esse, o objetivo de uma educação supostamente “neutra”, colaborar para a perpetuação?
Parece-me que sim, neste caso, em minha prática pedagógica prefiro, e pretendo sempre preferir, ser esquerdista, porém, sem ser partidário!


Prof. Fábio Mizuno leciona Educação Física na Escola Dinah




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Criação, Edição e Atualização
Paulo Antonouza