<$BlogMetaData$>


         
Livro de Visitas        FALE CONOSCO!             Leitor(es) online                   Arquivos 2003

10 de maio de 2007

 

Razão, Fé e Hipocrisia - Filosofia

A Igreja Católica desprezou a razão durante sua edificação e constituição, e isto, durou até o Renascimento, quando a razão, ao combater o poder espiritual, virou objeto de disputa entre os poderes temporal laico e o espiritual.
É notório que a razão é instrumento fundamental na busca da liberdade, que proporciona ao homem o verdadeiro livre-arbítrio, permitindo-lhe transitar livremente entre os mundos material e espiritual e fundindo as duas dimensões, criar a unidade necessária que ao frutificar, oferecerá ao homem o seu objeto de desejo – a felicidade, essa sim, é o que poderíamos conclamar como a verdadeira religião universal.
Diante dessa observação, conclui-se que o conflito pelo poder entre Estado e Igreja, é a luta entre dois mantras egoístas. Essa guerra fria e secular que se alimenta de corrupção e espoliação, garante a ambos, tudo o que almejam: riqueza material e domínios psicossocial e psicopompo (condutor das almas dos homens).
O resultado final das injustiças geradas é a formação de massas sociais espoliadas e alienadas, condenadas às psicoses na marinada em que vivem, à espera de servir sem ser servidas ou morrer sem ter vivido.


Esse submundo, submisso pela falta da razão, alicerça o mundo superabundante dos detentores do capital, e permanecerá assim até que aprenda a lutar pelos seus intelectuais, impedindo-os de migrar de classe social e permanecendo em seu mundo de origem, a fim de organizar e libertar o povo de sua matricária original.
A primeira produção da razão deve ser a consciência de que a justiça só é verdadeira se propiciar a paz e a igualdade relativa para todos.
Os intelectuais dessas classes sociais nascem no lugar certo, mas, atraídos pelas classes dominantes, ingratamente, mudam do seu verdadeiro local de trabalho para vender seu talento às elites dominantes, que oprimem as classes geradoras desses mesmos intelectuais.
Só a consciência desses intelectuais pode reverter o quadro de injustiças institucionalizadas pelo egoísmo elitista. E desta forma, construir a obra idealizada por Jesus Cristo, conduzindo-os ao oásis de justiça para dela saciarem-se, assim como fez Moisés no passado.
Entretanto, o projeto idealizado por Cristo, ao ser conduzido pela Igreja Católica, sofreu um retorno à mesma realidade social reprovada por Jesus. Essa volta à realidade original, deveu-se à corrupção dos eclesiastas da Igreja, que corrompidos, recriaram o mundo dos hipócritas e fariseus, materializando assim, o desejo de impedir a construção do mundo cristão.
Como definir esse intelectual libertador?
Está lançado um desafio para todos nós, que sonhamos com um mundo justo e fraterno.
E essa é uma sugestão, para passar pelo crivo da reflexão de todos, que também sonham com isso.
Esse agente social poderia ser o "intelectual orgânico", idealizado pelo filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937), morto mutilado pelo cárcere do fascista Benito Mussolini que, ao condená-lo, disse: "devemos impedir que este cérebro funcione durante vinte anos". Antonio Gramsci conhecia profundamente os bastidores e o pensamento, tanto da Igreja Católica quanto dos Estados da Europa, que naquela época viviam num cenário social semelhante ao atual cenário latino-americano.
Na história da Igreja Católica no Brasil, muito esforço foi feito nas últimas décadas, pela ala progressista – que exige mais comprometimento da Igreja, na luta por justiça para todos.
Nas movimentações sociais que precederam o golpe militar de 1964, ocorreu um racha na Igreja, quando uma ala se posicionou contra o golpe e a ala conservadora manteve-se a favor.
Essa divisão foi se acentuando cada vez mais devido às diferentes interpretações dadas aos documentos do Vaticano II, Medellín e principalmente após Puebla, quando se configurou a opção preferencial pelos pobres e a formação das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), que atuava de forma intelectual nas camadas mais injustiçadas das sociedades brasileira e latino-americanas.
Esses intelectuais religiosos, atuavam e desenvolviam movimentos que visavam o desenvolvimento e ascensão social das camadas mais baixas da sociedade. Mas, assim como em 1964, a ala conservadora da Igreja Católica, liderada pelo cardeal do Rio de Janeiro D. Eugênio Salles - ligado aos meios de comunicação da elite, aos militares e capitalistas, pressionou o Vaticano para combater e erradicar os trabalhos de libertação das massas populares. A Igreja Católica então, mais uma vez em sua história, tomou a posição mais cômoda, ou seja, a favor dos ricos e detentores do poder, seus aliados seculares.


Estancaram-se as fontes de produção da autêntica teologia denominada Teologia da Libertação, criada pelo teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, e elaborada e desenvolvida no Brasil pelo frei franciscano Leonardo Boff e seu grupo de teólogos, com amparo e apoio de cardeais e bispos progressistas, como D. Paulo Evaristo Arns, D. Helder Câmara, Aloísio Lorscheider, Pedro Casaldáliga, Thomas Balduíno e tantos outros.
Mesmo com esse exército exegético (responsável pela interpretação minuciosa de textos da teologia), o Vaticano, representado pelo Prefeito da Congregação para Doutrina da Fé, o então cardeal, Joseph Ratzingerhoje Papa Bento VXI, sufocou a teologia e as práticas libertadoras alegando que as mesmas utilizavam mecanismos marxistas de análise das realidades sociais, e que isso, conduziria o povo católico à laicização.
As vozes da libertação, que buscavam a justiça para os oprimidos, foram caladas, mas os efeitos da opressão continuaram, e cada vez mais acelerados, no processo de descatolização da sociedade brasileira e latino-americana, como já ocorrera no passado, com a sociedade européia.
E se isso não bastasse, o próprio Papa atual, Bento XVI, acaba de lançar um livro onde defende a libertação dos pobres, fazendo apologia a mecanismos marxistas de análise da sociedade.
E faço novamente a pergunta reflexiva: como definir esse intelectual libertador?



Prof. Nércio Martins leciona Filosofia na Escola Dinah.




Veja as matérias anteriores nos arquivos.
Criação, Edição e Atualização
Paulo Antonouza